terça-feira, 24 de novembro de 2009

Café com bolachas - Entrevista Grupo Ossanha

Grupo Ossanha apresenta: O Olho da Rua

Teatro documentário

Classificação – 18 anos

Horários: 10/12/09 – Sessão fechada para banca e professores. 11/12/09 – Sessões às 18h e 20h30’. 12/12/09 – Sessão às 19h. 13/12/09 – Sessões às 18h e 20h30’.

Local: Escola de Minas – sala 35.

Distribuição de senhas: envie nome completo, número de identidade, telefone para contato, data e horário que deseja ver o espetáculo para o email grupoossanha@rocketmail.com Após o envio, aguarde a resposta confirmando seu pedido.

Direção: Marcelo Costa

Assistente de direção: Gisele Bianca

Atores: Alan Villela, Barbara Buzatti, Elizangela Mira da Costa, Francisco Minervino, Higgor Vieira e Wallison Gomes.

Musico: Daniel Vargas, Elizar Junior

Produção: Ricelli Piva, Weber Cooper. Apoiadores: Prefeitura Municipal de Ouro Preto, Corpo de Bombeiros e panificadora tutti pani.

Descrição sumária do projeto:

A insanidade desse mundo torto é a base da criação do Grupo Ossanha – o qual propõe um teatro revelador das causas urgentes e necessárias. O grupo procura entender o comportamento do homem e o que o leva à doença da violência, trazendo personagens de temas complexos e psicologia profunda. Entendendo as circunstancias do viver no mundo moderno.

Será preciso abrir os olhos, retirar da retina, a película que impede de ver aquilo que deve ser visto.

Olá artistas e não artistas felizes, sorridentes, saltitantes, ufopianos e não ufopianos! Eu, Grasielli Gontijo, a mais nova bixo do blog dos cênicos (hehe) fiz uma breve “entrevista” com alguns integrantes do Grupo Ossanha, pra que a gente possa entender um bucadinho desse processo e pra divulgar a nossa arte! Dá uma olhadinha:

Relato dos atores:

Alan Villela

Blog dos Cênicos – Bergamotinha, como que está sendo o processo?

Alan - Confessando que foi muito difícil, pois em boa parte dos ensaios era necessário que ficássemos de olhos vendados para aguçar os outros sentidos. No começo era cansativo, pois ficava muito tenso, mas aos poucos meu corpo se acostumou com essa tensão. Era desesperador e muito intenso, mas apesar disso sinto falta quando não estou ensaiando.

B.C – Você se baseou em algum trabalho teórico durante o processo?

Alan - Tivemos como base a monografia do Marcelo Costa, diretor, e trabalhamos com a asfixia para que pudéssemos alcançar o nosso “máximo”. Técnica usada também durante o processo do espetáculo “Medeia de Bandido”, TCC em Interpretação da Natule e do Renato Ribeiro, em que o Marcelo também foi o diretor.

B.C – Como foi a construção do personagem?

Alan - Foi difícil também. Encontrar um corpo, uma voz para esse personagem. Houve ensaios individuais que foram essenciais pra essa construção. Tentei buscar um corpo durante meu cotidiano. E encontrei quando estava um dia andando na rua. E a partir desse corpo é que a voz veio. Levamos notícias de jornal e objetos para os ensaios para ajudar na construção dos personagens. Mas só consegui atingir uma naturalidade quando fui violentado na rua por um grupo de muleques xenofóbicos.

B.C - O que mais te assustou durante o processo?

Alan – O humor negro. Saber que existe uma realidade da sociedade brasileira e que nessa realidade acontece umas coisas tão absurdas que chega a ser engraçado. É o que mais me assusta, mas é o que mais a estimula a trabalhar. Levar essa violência para o teatro, usar o teatro para levar a realidade dessa sociedade para o espectador. Como diz o Marcelo, “ninguém sente a dor do estupro do outro”.

Higgor Vieira

B.C - Higgorsíssimo, como foi o processo desse espetáculo pra você?

Higgor – Fui convidado pelo Marcelo pra fazer o seu TCC antes de entrar na faculdade. Então quando chegou à hora de fazer me dediquei bastante a ele. Foi rápido e produtivo. E por ser um processo que trabalha com a estética e com a dor da carne foi bem pesado. Mas apesar do grande esforço físico e mental acho que não foi cansativo, pois me instigava essa realidade que está ao nosso lado e que não a vemos por que não queremos. Houve muitas modificações no processo. A princípio ele se chamaria “A Mesa”, onde trabalhamos como os olhos vendados, e isso me trouxe muita segurança no grupo. Me ajudou com o trabalho coletivo. O Marcelo me passa muita segurança, pois ele sabe o que ta fazendo. É um trabalho que teve muito estudo antes de ser executado. Ele desenhava todo o cronograma dos ensaios antes de passar pra a gente.

B.C – Você se baseou em algo para criar seu personagem?

Higgor – Os filmes “Estamira” e “Party Monster” me ajudaram bastante, acho que meu personagem tem muito da Estamira, essa coisa do lixo, sabe? Nos baseamos também em fatos pessoais como sonhos e confissões.

B.C – O que mais te assustou nesse preocesso?

Higgor – O nome do grupo, Ossanha. Eu tinha um preconceito e medo do candomblé. Mas sabia que o Marcelo tem um por que e um embasamento pra tudo o que ele propõe. E como Ossanha é o nome de um orixá da floresta, que está ligado à terra, esse nome nos passa uma energia boa e forte que nos estimula a criar.

B.C – O que você achou mais bacana no processo?

Higgor – O fato de o experimento abordar a realidade nua e crua. Em todo momento tem alguém sofrendo em algum lugar e nem nos damos conta. Usamos os olhos vendados não só pra aguçar mais o tato e a audição, mas para perdermos a segurança e com isso criarmos outras sensibilidades, ver, ouvir e dialogar de outras formas. Foi uma experiência que mudou toda a minha vida, acadêmica e pessoal.

Wallison Gomes

“O tipo de trabalho que o Marcelo desenvolve me acrescenta muito no crescimento pessoal e profissional. Passei por quebras de tabus e vícios, inclusive no conceito de teatro. Me fez abrir os olhos para a contemporaneidade. Ir até o final, mesmo com o estranhamento quanto à assistente de direção, Gisele Bianca, por ser uma boneca. Não entendi ainda o porquê dela, mas confio na proposta do Marcelo. Ele se preparou para o experimento, nos preparou e vai preparar o público para a realidade. Então, por mais que não pareça, o Marcelo trabalha com o teatro realista misturado com várias outras técnicas. E pra finalizar, o processo ainda não finalizou. A vida continua!”

Daniel Vargas (músico)

“Como são sete contos (um para cada ator) o processo de criação para as músicas foi diferente para cada conto. E a base para criar as intenções musicais é o que o diretor e os atores sentiam durante os ensaios. Perguntei ao Chicão o que ele sentia em um momento do texto e ele me disse que era como se estivesse ouvindo um blues, então coloquei uns acordes de blues na música quando ele falava aquela parte do texto. É um processo de mutua ajuda, entre músico, ator e direto. Mas mesmo assim sinto que a música fica um pouco subjugada ao texto. Tive que decorar alguns textos dos atores e sinto um pesar pela falta de tempo, pois a música nasce na minha cabeça, ela existe, mas passar para os instrumentos requer tempo.

Usei vários recursos músicas, como uma caixinha de música, copos, colheres, violão, colagens de trechos de músicas de minha autoria com as de outros músicos e uma maquina de música eletroacústica mista, executada pelo músico Henrique Dutra. Misturei a melodia de uma música com outras. Fiz o uso da polifonia, buscando um acumulo de sons para atingir imageticamente o público, pois tudo é criado a partir da sua mente. Há a falta do silencio e tudo em busca do caos, mas com os seus momentos de suavização. E um tiro bem dado não é caótico. Todos os contos ocorrem ao mesmo tempo, cada personagem com um timbre de voz, com uma noção de violência e o papel da música é unir essas histórias. Vejo essa relação do ator com o personagem uma mistura de suas vidas, não se sabe quando é o ator e quando é o personagem, quando é vida e quando é arte.

Espero que o público saia do experimento com alguma espécie de agilidade, euforia ou esgotamento. É a primeira vez que trabalho com teatro e estou aproveitando muito esse processo, pois ainda não sei ainda a onde isso vai acabar. Não gosto de andar numa rua e saber a onde ela vai dar. O ambiente alegre e rico me ajudou na criação, o envolvimento com os atores e com a produção. Foi um trabalho que transformou minha vida como artista, mas modificou mais em mim como ser humano.”

Nota do Diretor:

“Gostaria de agradecer à UFOP, DEART, aos professores que estiveram presentes na minha vida acadêmica, aos alunos que toparam mergulhar nas idéias, acreditar nas propostas mesmo não sabendo onde isso ia dar. Hoje me sinto mais preparado e irei levar como um antropófago um pouquinho de cada um. Obrigado!” Marcelo Costa